segunda-feira, 9 de maio de 2016

Feliz dia das mães (atrasado) pra geral (que é mãe)!

Eu queria aproveitar a data pra falar de uma música que eu curto bastante e tem uma letra interessantíssima, e como várias outras do Pink Floyd foi importante na minha vida servindo como base pra reflexão para varias relações da minha vida e da vida em sociedade em geral por perspectivas as vezes incomuns. O nome dessa música é Mother e ela fala (olha só) de mães, mais precisamente da relação maternal.

Antes disso, é importante explicar o contexto em torno da música. A música foi composta por Roger Waters como boa parte do álbum em que ela aparece, o The Wall (de 1979). Esse disco como o traço típico de Roger carrega uma conceitualidade crítica que envolve todo ele. O álbum explora as relações e elementos da vida social que levam a criação de muros metafóricos pelo individuo na tentativa de se isolar dos males e dores da vida social.

A primeira vez que ouvi Mother eu não estava com a letra em mãos e nem tinha uma percepção grande de inglês pra sacar qual era a da letra mas pela sua beleza e grandiosidade do seu solo supus que era uma homenagem as mães como ser celestial que nos ajuda a suportar o medo e a tristeza que nos atinge. Mas o papo é outro totalmente.

A canção começa com o filho perdido buscando auxilio pra entender qual é a desse mundo:

Mother, do you think they'll drop the bomb?
Mother, do you think they'll like this song?
Mother, do you think they'll try to break my balls?
Mother, should I build the wall?

Mãe, você acha que eles jogarão a bomba?
Mãe, você acha que eles gostarão dessa música?
Mãe, você acha que eles tentarão me castrar?
Mãe, eu devo construir o muro?

O eu-lirico demonstra sua insegurança tanto quanto a fatores do mundo em que ele não tem poder, a bomba (guerra fria ai galera), quanto a opinião das pessoas sobre suas criações, a música. Demonstra medo quanto ao que o mundo pode fazer a ele, castra-lo, e por fim pergunta se deve começar a construir seu muro para se privar do que o convívio e a vida social. 

E continua:

Mother, should I run for president?
Mother, should I trust the government?
Mother, will they put me in the firing line?
Is it just a waste of time?

Mãe, eu devo concorrer para presidente?
Mãe, eu devo confiar no governo?
Mãe, eles me colocarão na linha de fogo?
Isso é só uma perda de tempo?

E a resposta vem surpreendente pra um João Carlos que lia pela primeira vez esperando uma música intensa e feliz: 

Hush now, baby, baby, don't you cry
Momma's gonna make all of your nightmares come true
Momma's gonna put all of her fears into you
Momma's gonna keep you right here under her wing

Calma agora, bebê, bebê, não chore
Mamãe irá fazer todos os seus pesadelos virarem realidade
Mamãe irá colocar todos os medos dela em você
Mamãe vai manter você bem debaixo da asa dela

Segundo as palavras do próprio Waters a canção é sobre: "The idea that we can be controlled by our parents" ("A ideia de que podemos (e somos) controlados pelos nossos pais". Esses versos que iniciam essa ideia dentro da música são muito fortes, "mamãe irá fazer todos os seus pesadelos virarem realidade" e claro não expressa realmente a vontade da mãe mas algo que elas acabam fazendo em seu senso de super proteção, estimular o medo, mante-los "debaixo de suas asas", precaver os filhos de tudo pra evitar os inevitáveis erros.

She won't let you fly, but she might let you sing
Momma's gonna keep baby cozy and warm
Oh, baby, of course momma's gonna help build the wall

Ela não deixará você voar, mas pode te deixar cantar
Mamãe vai manter o bebê aconchegado e aquecido
Oh, bebê, claro que mamãe irá ajudar a construir o muro

E então o filho pode tomar dois caminhos, se rebelar contra isso, tomar uma atitude, conflito inevitável e então uma liberdade para lutar por si mesmo pela sua independência no mundo ou se apoiar no conforto da segurança das "asas da mãe" e não ter que enfrentar o mundo, suas obscuridades e abdicar de possíveis gratificações. Esse climax mental é ponteado pelo solo de David Gilmour que eu digo sem pestanejar que é um dos melhores guitarristas e solistas de toda história, o solo é sublime, e ainda sim não se torna mais grandioso que a própria música, ele a complementa grandiosamente. As perguntas seguem e elas são nossa resposta:

Mother, do you think she's good enough
For me?
Mother, do you think she's dangerous
To me?
Mother, will she tear your little boy apart?
Mother, will she break my heart?

Mãe, você acha que ela é boa o bastante
Para mim?
Mãe, você acha que ela é perigosa
Para mim?
Mãe, ela vai fazer seu menininho em pedaços?
Mãe, ela irá partir meu coração?

Um autêntico filhinho da mamãe, mas em parte o produto de uma realidade hostil se apoiando na saída mais tranquila e fácil pra mesma, o homem que escolhe permanecer dentro da caverna, longe das feras mas também longe da luz do dia. 

Hush now baby, baby, don't you cry
Momma's gonna check out all your girlfriends for you
Momma won't let anyone dirty get through
Momma's gonna wait up until you get in
Momma will always find out where you've been
Momma's gonna keep baby healthy and clean

Calma agora bebê, bebê, não chore
A mamãe vai checar todas as suas namoradas pra você
Mamãe não irá deixar ninguém sujo se aproximar
Mamãe vai esperar acordada até você entrar
Mamãe vai sempre descobrir por onde você esteve
Mamãe vai sempre manter o bebê saudável e limpo

Essa música me fez repensar muito minha relação com meus país, no meu caso, não é uma relação ruim embora tenha seus problemas mas, ainda mais quando estamos crescendo, vamos reparando como essa relação pai/mãe-filho está condicionada a varias problemáticas que temos que enfrentar e que são criadas por convenções e normas sociais. Voce percebe que seus pais agem de formas que voce não concorda mas que eles agem assim porque foram ensinados a agir e pensar dessa forma, da mesma maneira que voce também é ensinado a agir de um jeito e que isso começa a influenciar no que voce faz da sua vida. Voce ainda não tem as redeas dela totalmente até ter um emprego e/ou se mandar. 

Nas relações pais-filhos da nossa realidade isso acaba sendo normal e eu digo da NOSSA realidade porque não podemos normalizar isso como se fizesse parte da vida e não devesse mudar, afinal se vemos um problema e eu imagino que alguém nessa geração queira ser mãe ou pai ainda, não deveríamos perpetuar ele. 

Por fim, a canção termina com o filho refletindo sobre sua escolha, pensando se poderia ter escolhido o outro caminho:

Mother, did it need to be so high?
Mãe, precisava ser tão alto?

O muro, a barreira que foi construída, precisava ter sido tão alta mesmo? Ele precisava ter se fechado tanto?




João Carlos Pinho

PS: O álbum The Wall foi seguido de um filme com o mesmo nome em que as músicas dele são tocadas e se passa a história que as letras do CD falam sobre, pra quem se interessar fica a dica.

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