domingo, 14 de setembro de 2014

O Começo da Experimentalidade na Música: A Psicodelia Sessentista

Pra começar, espero que muitos já tenham esse noção, e os que não tem venham a ter por meio desse ou de algum texto mais especifico que eu vá fazer sobre a década de 60, que ela é um marco na história da música. Não um marco na história da música do século XX ou em relação a todas as décadas que se seguiram mas da música como um todo na história da humanidade, da mesma forma que aqui no Ocidente classificamos os anos por Antes e Depois de Cristo, nela poderíamos colocar um Antes e Depois da Década de 60.

Claro que esse Big Bang musical teve sua expansão proporcionada pela já formada e funcionando em pleno vapor Industria Cultural, ainda sim essa década se tornou simbólica por expandir os conceitos da arte dos sons em todas as direções e o elemento primordial para isso foi: o experimentalismo.

Um carinha ai, tal de Bob Dylan que tem uma irritante mania de prever os rumos que a música vai tomar, em 1965 subiu ao palco onde tinha se consagrado em Newport para o Festival de Música Folk com uma guitarra elétrica. Apesar de todo seu reconhecimento já na época e de alguns aplausos, ouviram-se vaias estrepitosas. Peter Yarrow do trio Peter, Paul and Mary disse depois "Era como uma capitulação ao inimigo, como se de repente você visse Martin Luther King fazendo um comercial de cigarro".

É, não foi um começo fácil para a inovação e toda a mistura que se iniciaria mais tarde diante de um público tão conservador que aos poucos iria se dissipar, mas o importante é que esse simples e genial ato de Dylan encorajou outros jovens, ainda mais jovens a não terem medo de tentarem fazer algo novo.

Mas voltando ao experimentalismo...

No ano que seguiu depois desse (66) três jovens talentosos que já esbanjavam a rebeldia do rock n' roll mas ainda buscavam firmar uma identidade musical começaram a trilhar seus caminhos.

Roky Ericson, um jovem americano branco de cabelos grandes e olhar psicótico, viciados em revistas de comédia e terror, tinha co-fundado a banda 13th Floor Elevators e, na época com 19 anos, entrou em estúdio e gravou com sua banda o The Psychedelic Sounds of The 13th Floor Elevators que apresenta a música mais famosa da banda: You're Gonna Miss Me, que reafirma o vinculo com o Blues mais já mostra um pouco do som louco que viria a seguir: músicas densas, guitarras dedilhadas, vocais gritados e efeitos sonoros que se repetiam.

A banda não durou tanto e teve um final trágico: levado aos tribunais acusado de portar drogas, Ericson alegou problemas de sanidade mental para ser liberado, o que não deu nem um pouco certo, tendo sido levado a um hospital psiquiátrico e recebido terapia eletroconvulsiva, que consistia em aplicar choques no paciente para diminuir sua loucura.(o cara se deu muito mal.)

Roky nunca mais foi o mesmo e os Elevators não tiveram como continuar, particularmente não sou fã deles mas o pioneirismo deve ser reconhecido.

Arthur Lee, foi o brilhante mais errático líder do Love, um jovem de Los Angeles negro que segundo o produtor Bruce Botnick usava ácido 24 horas por dia (não era tão fora dos padrões isso pra época, o bagulho era doido). O Love também lançou em 66 um album que tem padrões psicodélicos, no entanto foi com seu segundo álbum que estourou para o estilo que combinava canções pesadas e outras com belas melodias.

O marco na carreira da banda entretanto foi Forever Changes, também de 67. Seu uso de violões e arranjos de metais e cordas deu origem a um clássico pop, numa afirmação complexa do estranhamento e da violência nos EUA dos anos 1960.

O Love, apesar de tudo, nunca alcançou o reconhecimento em massa do público, e depois de gravar mais um compacto a banda se dissolveu. Lee continuaria o grupo com novos músicos, sem sucesso todavia.

Depois de passar um período na prisão durante os anos 1990, Arthur Lee montou outra banda, viajando em turnê e tocando as canções clássicas do Love. Arthur morreu em Memphis em agosto de 2006 vítima de leucemia.

Agora, o maior precursor da psicodelia que veio a seguir foi sem dúvida nenhuma Syd Barrett (esse é ídolo) que fundou uma das maiores bandas, na humilde opinião desse que vos fala, de todos os tempos: o Pink Floyd.O britânico dotado para artes e considerado uma pessoa maravilhosa por todos com quem convivia em 66 se apresentava no UFO Club em Londres com a banda que era completada por Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright fazendo várias jams enormes totalmente loucas enquanto espetáculos visuais eram postos na parede atrás da banda. 

Ganharam bastante fama no underground da cidade e com o lançamento de seu primeiro single chamado Arnold Layne que inovava ao tratar de um tema que fugia totalmente dos padrões, falando sobre um travesti que tinha como passatempo roubar roupas femininas.E depois lançaram See Emily Play com qualidade ainda maior que Arnold Layne, que falava sobre uma garota que dançava nua sobre um bosque.

Lançou com o Floyd em 67 o lendário álbum The Piper at The Gates of Dawn no estudio Abbey Road na mesma época em que os Beatles lançavam um tal de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Syd compôs a maiorias das faixas que ao mesmo tempo psicodélicas tem um caráter pop, coisa que mais tarde ia acabar se tornando mais frequente. 

Também é legal notar que já ali pode-se notar traços de rock espacial com Interestellar Overdrive, de quase 10 minutos e boa parte improvisada a partir de um riff e Astronomy Domine, uma música muito viajante (e boa demais) que abre o álbum.

O Syd ainda participou de alguma parte do segundo álbum da banda, mas suas condições mentais tornaram impossível que continuasse, faltava shows e quando ia ficava sentado tocando a mesma nota durante todo o show. Lançou ainda dois álbuns em carreira solo: The Madcap Laughs e Barrett, que para um fã soa bom e triste ter mais material de seu ídolo embora o material reflita sua própria decadência. 

Nos anos que se passaram o Pink Floyd se tornou um gigante, lançando o Dark Side of The Moon, terceiro álbum mas vendido da porra toda e Barrett ainda serviu de inspiração para muitas músicas como Brain Damage, Shine On You Crazy Diamond e Wish You Were Here. Mas o próprio ficou recluso do mundo completamente, COMPLETAMENTE, até que morreu em 2006 sem deixar mais material (:/).

Bom, durante o período que se seguiu de 67 a 69 varias outras bandas psicodélicas surgiram: Mutantes (é rapaz, o brasil também manda bem) Jefferson Airplane, Spirit, Hawkwind, The Doors, Velvet Underground, The Seeds, West Coast Pop Art Experimental Band (adoro esse nome), Ultimate Spinach (aja criatividade, ou não) , Eletric Prunes, Quicksilver Messenger Service, Grateful Dead etc etc etc.

Elas não só influenciariam vertentes do rock que se formariam depois (Space Rock, Progressivo, Post-Punk, Post-Rock) como também a música pop com Bowie e os Beach Boys com o Pet Sounds, também misturou-se com Funk e Soul com bandas como Funkadelic e Sly and Family Stone. Hoje até existe o termo Neo Psicodélia que vou explorar mais depois.

Bom, é isso, fiquei com uma sensação ruim com esse texto porque senti que falei demais e ao mesmo tempo deixei muita informação de fora, talvez por eu gostar muito desse estilo e ao mesmo tempo ter um medo das pessoas ficarem entediadas, espero que os próximos saiam mais tranquilos e descontraídos, talvez eu fale de álbuns específicos para tornar isso mais fácil, é isso, até mais.

Abs,
João


2 comentários: